O FENÓMENO DAS MIGRAÇÕES

                  A recusa da indiferença

  1. A complexidade do fenómeno humano e social das migrações tem grandes consequências nas pessoas e na vida dos povos. Em princípio não podemos considerar este fenómeno como um mal ou uma ameaça, dado não estarmos perante uma ofensiva armada ou uma apropriação violenta do nosso território.

Os atuais movimentos migratórios têm múltiplas causas ou raízes. Por um lado, os males existentes nos países de origem dos migrantes: a injusta distribuição das riquezas, a fome, a falta de trabalho, a guerra e a violência. Por outro lado, o grande desequilíbrio entre a baixa natalidade, com a consequente falta de mão de obra nos chamados países ricos, a par da alta natalidade nos países pobres, geradora de excedente de mão de obra e desemprego. Um outro aspeto são as expectativas criadas nos países prósperos, que tendem a deixar para os imigrantes os trabalhos que não consideram adequados para os seus filhos.

Contudo, não podemos ignorar que a migração não regulada, como acontece em Portugal e na Europa, pode dar origem a desordens, sendo as primeiras vítimas os próprios imigrantes e suas famílias. Porém as migrações causam benefícios aos próprios imigrantes, ajudando-os na melhoria das suas condições económicas e sustento das suas famílias, elevam o nível cultural os seus conhecimentos técnicos e profissionais. Simultaneamente, são melhoradas as economias tando dos países de origem como dos países de acolhimento

2, Em segundo lugar, importa salientar que as migrações interpelam a todos. A presença de tantas pessoas estrangeiras entre nós afeta a todos e, por isso, ninguém pode ficar indiferente: individualmente ou em grupo, as autoridades, os empresários, a sociedade, a própria Igreja, as instituições e serviços não podem praticar a política de avestruz, enterrando a cabeça na areia para fazerem de conta de que nada se passa,

3. As respostas que se vão dando são diversas, indo do acolhimento cordial e ajuda solidária, incluindo a oferta de trabalho, a inserção na comunidade de fé, até ao medo dos estranhos, a recusa, o abuso e a xenofobia.

De um modo geral julgo podermos falar de uma valorização positiva dos imigrantes entre nós, porque têm assumido trabalhos que os portugueses não queriam ou existe real falta de mão de obra. Sem eles, muitas empresas e negócios já estariam encerrados.

Face aos problemas existentes, incluindo ações violentas ou motins, devemos evitar a tentação de generalizar como se tudo fosse um mal, apoiados em estereótipos ou conceitos erradamente preconcebidos.

Os legisladores e os responsáveis pela aplicação das leis sobre os estrangeiros, bem como as forças de segurança, os empresários e a sociedade em geral têm uma responsabilidade individual, institucional e coletiva, tentando o justo equilíbrio entre a dignidade dos próprios migrantes, “os interesses do país” e a sempre desejada e necessária paz social, construída com solidariedade, justiça e equidade.

4. E a Igreja. Esta, sendo a grande família dos batizados, tem o dever permanente de proceder como nos manda O Senhor e como Ele mesmo atuou. Mais do que entrar na análise pormenorizada dos comportamentos da Igreja para com os imigrantes, por agora, prefiro deixar esta tarefa para os sociólogos ou para a observação de cada um ou do grupo de pertença. A presença dos imigrantes no nosso país, interpelando a todos, tem como consequência que toda a Igreja e todos em Igreja nos devemos sentir interpelados, assumindo a responsabilidade de ir mais além do que aquilo que a sociedade em geral consegue.