BAPTISMO ANTES DA IDADE DA CATEQUESE

NAS PRIMEIRAS SEMANAS OU MESES

Face à prática tradicional da Igreja Católica de Baptizar as crianças, creio que devemos ser cautelosos na hora de nos decidirmos pelo Batismo de qualquer criança. A legitimidade do batismo nas primeiras semanas ou meses de vida não significa que devamos batizar todas as crianças nem quer dizer que seja o ideal porque muitos que foram baptizados inconscientes se veem mais tarde confrontados com obrigações e conceções de vida que não chegam a aceitar. Pelo contrário, quando falta a fé dos pais, ainda mais cautelosos devemos ser. Mas, quando decidimos fazê-lo, devemos estar capazes de nos comprometermos com os baptizandos e seus pais, proclamando que nossa crença no dom gratuito da justificação não dispensa o completar do rito com uma catequese convidativa à futura retificação pessoal por parte de quem recebeu o Sacramento.

Pastoralmente, e de acordo com o Ritual do Batismo das Crianças, não podemos descuidar a necessária catequese preliminar aos pais antes do batismo, a qual não é apenas para as famílias não praticantes. Ao julgarmos dever continuar com o Batismo das crianças, não podemos esquecer o verificar da existência das devidas condições e a preparação daqueles que assumem a responsabilidade de educar na (e para) a fé: comunidade cristã, representada em certo modo pelos padrinhos, e seus pais. É tarefa das Conferências Episcopais, dos Párocos e de qualquer ministro deste sacramento, organizar o modo de melhor aproveitar pastoralmente esta oportunidade. Na impossibilidade do ideal, não deixemos de fazer o possível e ao nosso alcance de modo a não desvirtuarmos o sentido do sacramento e ajudarmos a que a gente escolha com a maior liberdade, reforçada pela consciência do que se faz. Sobretudo, não esqueçamos que Deus pode servir-se destas ocasiões para que alguns retornem à fé e outros revejam sua consciência e olhar, facilmente desvirtuado, quanto à vida da Igreja. A delicadeza, o sacrifício, a inteligência para preparar e celebrar comunitária e festivamente, muito poderão ajudar na manifestação do sentido da comunidade cristã.

Em segundo lugar, não vejo qualquer atentado à dignidade da pessoa ou à sua fé pessoal quando baptizamos na fé dos pais e da Igreja. Nascemos e crescemos numa sociedade, dela dependemos local e temporalmente, dela recebemos os conhecimentos e nela nos desenvolvemos e transmitimos nossa herança, numa sucessão de gerações. As circunstâncias em que se vive, em princípio, não serão um obstáculo, antes promoverão nossa autonomia e liberdade, preparando-nos para a hora das opções definitivamente importantes, como é o caso da própria fé e sua vivência ou rejeição. Conscientes de que o sacramento primordial é Cristo e a Igreja, recebemos as primeiras sementes da fé a partir da Igreja, esposa e mãe. É nesta fé que se funda quer a fé dos adultos, quer a fé das crianças.

A necessidade de batizar e ser batizado não pode ser desligada da necessidade da prévia evangelização, tal como intuíram os Padres gregos e latinos e concretamente Santo Agostinho ao dar-se conta de que, afinal, ainda haviam pessoas a quem o Evangelho não tinha sido anunciado.

Atualmente, verificamos a diminuição dos pais que manifestam o desejo de batizar seus filhos antes da idade de catequese. A meu ver, no caso dos pais crentes, o mais normal será batizas os bebés, considerando isto como o primeiro passo de um processo consequente de iniciação. Aqueles que podem carecer de convicções explícitas de fé, movem-se numa tradição e cultura antropológicas que exigem ritos e referências da vida à transcendência, na procura do mistério que nos ultrapassa. O Batismo a realizar-se fará parte da festa celebrativa, mais além do quotidiano, da esperança e procura da plenitude da vida, que habitualmente não se sabe expressar com palavras mas se vive, crê e sente. Sacralizar os momentos decisivos da vida, e neste caso o próprio nascimento, e procurar uma identidade cristã pela pertença a um povo que celebra a fé, tem um grande valor antropológico porque expressam os desejos e sentimentos íntimos e favorecem a relação com Deus e com os outros.

A não concordância entre aquilo que os pais pedem ou vivem e o que o sacramento do Batismo expressa e oferece a quem o recebe, deve levar-nos não à negação automática do sacramento mas antes a sermos cautelosos para que quando batizamos, o façamos como Deus manda. Pastoralmente, será sempre uma ocasião para, com delicadeza, apresentarmos o rosto e o nome da transcendência, ou seja, o Deus dado a conhecer em Jesus Cristo. Porque o sacramento atualiza e realiza o mistério de Cristo em Igreja, não tem sentido a sua celebração sem atitudes significativas da referência a Cristo e da não recusa da Sua Igreja.

Assegurado um mínimo de consonância e comunhão eclesial, bem como a disponibilidade para o compromisso permanente em ordem à transformação e libertação própria do batismo, em princípio, devemos continuar a batizar nas “primeiras semanas” ou meses de vida.

Mas não basta batizar. A Igreja que batiza deve assumir o compromisso de continuar a oferecer os meios para o purificar das motivações e valores existentes nos pais daqueles que batiza e que também necessitarão ser ajudados na futura personalização do acolhimento batismal e da resposta de fé livre, consciente e responsável. A fé da Igreja e dos pais assumirá o compromisso de suscitar, alimentar e levar à maturidade e personalização da fé dos batizados.

 

A PARTIR DOS TRÊS ANOS DE IDADE

Nestas idades as crianças já fazem muitas perguntas e têm direito a respostas. A procura de afirmação de si mesmas, pode levá-las a autênticos protestos na hora de receberem a água batismal (principalmente pelos 3-4 anos de idade). Tal realidade gera um ambiente pouco favorável à dignidade do que celebramos e, provocar na criança “alguma aversão” em relação ao ministro do batismo, porque “lhe molhou a cabeça”. Por estas e outras razões, pode dar bons frutos a não imposição mas o propor do adiamento do Batismo para mais tarde, possivelmente depois da entrada na catequese, altura em que a própria criança fará a sua preparação pessoal para o Baptismo e primeira Eucaristia.

Na vida pastoral, não existindo “receitas milagrosas”, caso a caso, impõe-se a responsabilidade de discernir a melhor resposta a dar, no diálogo com os pais e padrinhos, propondo o ideal e encontrando o que legitimamente poderemos esperar.