NOITE DE NATAL NA SÉ DE BEJA

HOMILIA NA NOITE DE NATAL

Sé de Beja, 24.12. 2023

 

Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo Jesus:

 

1 – Nesta noite santa de Natal celebramos o Nascimento de Jesus. Não apenas o Seu nascimento em Belém, há mais de dois mil anos, mas o Seu nascimento hoje, como cantávamos há momentos: hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor.

 

Hoje? Sim. HOJE! Trata-se do Nascimento em nossos corações, de Cristo Ressuscitado que regressou ao Pai após realizar a Sua obra, e que, pelo ministério da Igreja é semeado no mundo e, por obra do Espírito Santo, se forma, cresce e nasce nos corações daqueles que, escutando a pregação, o anúncio que suscita a fé, se tornam cristãos, portadores de Cristo e Sua presença no mundo. Ser cristão, caríssimos irmãos e irmãs, mais do que ser aderente a um determinado Credo, é sermos participantes da mesma natureza divina de Jesus, é vivermos a mesma vida de Cristo, Filho de Deus, é sermos filhos adotivos de Deus, unidos ao Filho Unigénito de Deus, ao nosso grande Deus e Salvador, para usarmos as mesmas palavras que escutámos, há momentos, na segunda leitura.

O Natal, o Nascimento de Jesus Cristo em nós é a manifestação em nossas vidas, dessa Vida divina. Fomos criados seres humanos, mas, tornando-nos participantes da natureza divina, podemos amar a Deus e aos irmãos com o mesmo amor, com o mesmo espírito, e com os mesmos sentimentos de Jesus. Ou seja, podemos dar a nossa vida pelos irmãos e também pelos nossos inimigos.

O assombro que provoca em nós esta realidade nova, podemos vê-lo descrito na primeira leitura que escutámos, tirada do profeta Isaías: aquela grande luz vislumbrada pelo povo que andava nas trevas, a alegria multiplicada, o júbilo de quem reparte os despojos depois da vitória, o queimar das roupas manchadas de sangue e o calçado ruidoso da guerra, a libertação do pesado jugo que oprimia o povo, os tempos maravilhosos de uma paz sem fim… tudo isso porque um menino nasceu para nós. Um Menino que é o Príncipe da Paz!

 

2 – O Príncipe da Paz!

Neste Natal encontra em guerra o Seu povo de Israel, encontra em guerra dois países de tradição cristã, a Rússia e a Ucrânia e, por muitas partes deste mundo, conflitos e mais conflitos, alguns declarados e outros latentes, encontra tantos casais divididos, tantos corações sem paz nem amor, tantos idosos vivendo sozinhos, tantas crianças e tantos jovens desencaminhados, tantas ovelhas perdidas nas trevas, sem pastor que as apascente…É preciso que o Senhor Jesus nasça e cresça nas famílias de Nazaré que devem ser as nossas paróquias, os nossos movimentos, as nossas famílias, para chegar a encontrar muitas destas pessoas e assim as salvar. O mundo atual, que esqueceu Deus e pensa que o paraíso é tão só obra dos homens que se organizam e trabalham, vive nas trevas. Falam todos a mesma linguagem, mas, como aconteceu na Torre de Babel, ninguém se entende.

Vem, Senhor Jesus, Príncipe da Paz! Nasce e manifesta-Te na Igreja, Virgem e Mãe, por obra do Espírito Santo! Continua a quase não haver lugar para ti na hospedaria dos homens, mas Tu aceitaste nascer naquele presépio, onde o boi que conhece o seu dono e o burro o estábulo do seu possuidor, Te acalentaram com o seu bafo.

 

3 – Escrevendo a Tito, S. Paulo afirma que, contigo e em Ti, Senhor Jesus Cristo, se manifestou a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Esse amor gratuito que nos dedicas ensina-nos a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, ou seja, a tudo aquilo que nos fecha em nós mesmos e nos leva a procurar ser felizes de forma egoísta, para vivermos, no tempo presente, um relacionamento novo baseado na temperança, na justiça e na piedade.

É no tempo presente, é hoje, é neste hoje que nasce o Verbo feito carne para nos ensinar um relacionamento de temperança com os bens materiais, de justiça para com os nossos irmãos e de piedade para com Deus, ou seja, um relacionamento próprio de filhos de Deus. Como escreveu S. Paulo na carta aos romanos, a criação inteira aguarda a manifestação dos filhos de Deus para ser libertada da corrupção do pecado, que tudo escraviza.

Enquanto não nos virmos como irmãos, porque filhos do mesmo Pai, são inevitáveis entre nós as guerras que tudo destroem, e enquanto não vivermos resgatados pelo Sangue de Cristo, Cordeiro inocente, o ciclo infernal da violência não deixará espaço para o amor fraterno. Mas os bons relacionamentos com os bens materiais e com os nossos irmãos e irmãs nascem, necessariamente, de um relacionamento de piedade amorosa para com Deus. Por isso nos alegramos festejando o nascimento de Cristo, o Príncipe da Paz. O Natal é o antivírus da guerra. O cântico dos anjos em Belém, depois do anúncio aos pastores, di-lo claramente: glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por Ele amados. O Nascimento de Jesus que vem inaugurar na terra o culto novo em que Ele, esvaziando-Se a Si mesmo, oferece ao Pai toda a glória, torna possível a paz entre os homens. Ele entregou-Se por nós para nos resgatar de toda a iniquidade, e preparar para Si mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras. Este é o programa da vida cristã, isto é o que temos de pôr em prática nas nossas vidas, caros irmãos e irmãs.

4 – Escutámos, na leitura do Evangelho, os sinais que os anjos deram aos pastores para reconhecerem o Menino recém-nascido: envolvido em panos e deitado numa manjedoura. Que significam, caros irmãos e irmãs, estes dois sinais? Envolvido em panos pode significar sujeito à lei, como escreveu S. Paulo na sua Carta aos Gálatas: quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à lei, para remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adoção filial. A lei é como os panos que envolvem os membros débeis dos recém-nascidos, para que cresçam harmoniosamente, como devem crescer. Esta expressão significa também que o Senhor Jesus, o Filho de Deus, ao fazer-Se homem, assumiu a condição humana de todos os homens sujeitos à lei, porque são, porque somos, débeis pecadores. Como afirma o mesmo apóstolo, Ele fez-Se pecado por amor de nós.

Estar deitado na manjedoura onde se colocam as rações para os animais comerem, significa que Ele vem trazer-nos o verdadeiro alimento que sacia a nossa fome. Ele apresentar-Se-á, na sinagoga de Cafarnaum, como o pão vivo descido do Céu para dar a vida ao mundo. A Sua carne é verdadeira comida, e o Seu sangue, verdadeira bebida. Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue, diz o Senhor, tem a Vida eterna.

 Nesta mesma celebração, depois da liturgia da Palavra, faremos a liturgia Eucarística que se concluirá com a Sagrada Comunhão. Comeremos o Corpo de Jesus, na espécie do pão consagrado, e beberemos o Seu Sangue, na espécie do vinho consagrado. Ouviremos estas palavras d’Ele: tomai e comei, isto é o Meu Corpo; tomai e bebei, isto é o Meu Sangue.

Jesus nasceu para ficar connosco, para nos fazer passar, com Ele, deste mundo para o Pai e, com Ele, podermos amar e viver eternamente.  Celebremos o Natal! Acolhamos Jesus recém-nascido para crescer em nossos corações e realizar as obras que apenas Ele pode realizar: obras de perdão, obras de amor e de paz.

+ J. Marcos

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