PARA UMA IGREJA SINODAL E FRATERNA
De 4 a 29 de outubro, como sabemos, decorre, em Roma, mais um Sínodo dos Bispos. Desta vez, embora se continue a chamar assim, já conta com a participação efetiva de padres, leigos e leigas, o que já não o faz ser apenas “mais um”, pois, só por isto, ele já seria diferente de todos os outros. Mas, ele é diferente, também, pela estratégia preparatória que envolveu milhares e milhares de católicos, que através das suas comunidades cristãs e/ou movimentos eclesiais deram contributos que permitiram aos participantes do Sínodo refletirem sobre o que pensam os católicos acerca das grandes questões que, atualmente, se colocam à Igreja. Sei que não colaboraram todos os católicos. Todavia, só não deu o seu contributo quem não quis ou, então, discorda deste procedimento do Papa Francisco.
Pelos ecos que me foram chegando, sei que, em Portugal, muitos quiseram colaborar, mas não o fizeram, dado que o seu pároco não criou condições para isso, por discordar do processo, considerando que os leigos não deveriam pronunciar-se sobre questões que apenas dizem respeito aos padres. Já não relevo a falta de fidelidade a um não cumprimento de uma orientação papal que, já por si, me parece grave, mas rejeitar um processo sinodal é negar a essência do ser Igreja. O Papa Francisco, consciente de que, até agora não tem sido assim, insiste muito na resistência que temos de fazer ao excesso de clericalismo de padres e já também de muitos leigos. Ele sabe, que se continuarmos a trilhar o mesmo caminho, o Espírito Santo será obrigado a agir, como já aconteceu noutros períodos da história, fazendo o que nos compete, mas com “rajadas de vento” que, forçadamente, abrirão as “portas e janelas” que podemos estar a recusar a abrir já, mas que fortalecidos com os Seus dons, seremos impelidos a abrir.
Permitam-me que passe agora a fazer três citações de um livro que li, recentemente, muito importante para consolidar e alavancar as convicções que já tinha sobre a importância de uma Igreja em que todos caminhem juntos, que, como sabemos, é o que quer dizer “Igreja Sinodal” e nos indica uma “eclesiologia de comunhão”. Escreve um dos autores desse livro que: «Quando a sinodalidade da Igreja entra em dormição, a sua identidade doutrinária deixa de ser respeitada. Com efeito, tal como nos recorda a Introdução de “Lumen Gentium” a Igreja é, ao mesmo tempo, povo de Deus Pai, Corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. E já que é Corpo de Cristo, ela comporta uma enorme diversidade de membros que colaboram na unidade como assinala São Paulo. O povo de Deus é justamente chamado ekklesia, isto é, assembleia. Ser templo do Espírito Santo significa que todos os dons do Espírito na sua diversidade, se encontram em todo o povo de Deus o que supõe um sistema de escuta recíproca e de corresponsabilidade. A desordem penetra claramente na Igreja, quando um só quer ser tudo ou quando todos querem fazer tudo.»
Rezemos para que do Sínodo venham sugestões que permitam ao Santo Padre dar indicações que nos levem a sentirmo-nos todos, verdadeiramente, Igreja.
Há quem reclame, de modo a assegurar a participação, a implementação da democracia. Uma eclesiologia de comunhão é muito mais exigente. Cito de novo o autor anterior: «No entanto considerar que a Igreja deve funcionar como uma democracia faria pouco sentido, porque as assembleias cristãs visam uma verdade que não é de forma alguma objeto da democracia.» Rezemos para que o Espírito Santo ilumine os participantes do Sínodo a orientarem-se apenas pelas verdades da fé, como disse S. Paulo (cfr 1Cor 15,3 e 11,23).
Dada a sua importância, tendo em conta os desafios da contemporaneidade, há quem queira comparar este Sínodo quase a um Concílio. São duas instâncias com níveis de responsabilidade diferentes. Mas este, e o que se lhe seguirá no próximo ano, são cruciais, porque «qualquer progresso na Igreja Católica, rumo a um exercício menos pessoal e mais sinodal da autoridade, seria um passo considerável rumo à Igreja «Una», de acordo com o compromisso ecuménico declarado «irreversível», por todos os últimos Papas.» Por fim, deixo um apelo: individualmente ou em grupo, rezemos, todos os dias, pelos bons frutos do Sínodo para que possamos ter uma Igreja sinodal e fraterna.
Eugénio Fonseca