O CANSAÇO ESPIRITUAL

Nestes tempos em que se desejam e procuram umas férias que revitalizem as nossas forças anímicas, um dos principais argumentos para a sua necessidade é a experiência do cansaço. Na verdade, trata-se de uma realidade bem presente e, ao longo da história dos crentes, sabemos que se cansaram homens e mulheres com uma experiência de fé muito forte e, entre eles, inclusive, profetas e místicos.

Importa indagar um pouco as raízes de qualquer experiência de cansaço, quer começando pelas internas ou advindas do próprio, quer pelas externas.

Nesta breve análise, aponto apenas quatro situações:

  1. Cansamo-nos, pela vida que levamos. O activismo e ocupação permanente, por si mesmo, levará, mais cedo ou mais tarde, à experiência de cansaço.
  2. Cansamo-nos, por razões adversas ou vindas do exterior. Com frequência, parece que “nadamos contra a corrente e principalmente, quando a tentação proveniente do exterior, atinge as fronteiras do escândalo e, então, à semelhança do profeta Jeremias, chegamos a perguntar: “Porque prosperam os maus e vivem tranquilos os traidores”? (12, 1-3). Na Bíblia, muitos homens de Deus  experimentaram o cansaço espiritual: Moisés, Davi, Elias e João Batista são alguns deles. No caso de Elias, pode-se dizer que atingiu a exaustão espiritual. Tendo-se entregado à causa de levar o povo a experimentar a verdade foi obrigado a fugir, passando a viver sem destino certo. Sofreu com a escassez e foi acolhido por uma humilde viúva, após o que voltou a enfrentar a fúria do rei e os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal.
  3. Cansamo-nos com o desgaste do tempo. O entusiasmo, próprio dos tempos da juventude, vai-se esvanecendo, principalmente quando apostamos em critérios nos quais acreditamos e, à nossa volta, ganha força a corrente contrária, podendo levar-nos a concluir, como o profeta Isaías: “Cansei-me inutilmente. Em vão e por nada esgotei as minhas forças”! (Is. 49,1-6).
  4. Finalmente, cansamo-nos pela escassez dos resultados – Trabalhamos na noite do lago e “não apanhamos nada”. (Lc. 5,5). Quando assim acontece, conscientes das águas agitadas e tempestuosas em que tentamos pescar, só retomaremos depois de escutarmos a voz do Senhor que nos manda novamente, contra toda a lógica, lançar as redes numa hora diferente e, talvez para outro lado, com um jeito novo.

 

A todos quantos necessitam verdadeiramente de descanso desejo umas ótimas férias, que proporcionem o descanso do corpo e do espírito, até que seja necessário voltar novamente à luta porque, afinal, o “não fazer nada” também provoca o cansaço.

 

 

 

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