MISSA CRISMAL 2025
16 de abril 2025
Na Quarta-Feira Santa (16 de Abril) o clero a trabalhar na Diocese de Beja reuniu-se com o seu Bispo, D. Fernando Paiva, a partir das 11 h. 30 m, no Centro Pastoral de Beja.
Após a Oração da Hora Intermédia , houve tempo para os Arciprestados reunirem sob a presidência dos respetivos Arciprestes tratarem de dois assuntos, a pedido do senhor Bispo.
Seguiu-se o almoço. pelas 13.00 horas, e tempo de convívio, até às 15.00 horas, altura em que teve início uma Conferência sobre a última Encíclica do Papa Francisco Dilexit nos, pelo Pe João Manuel Silva, sj.
Pelas 18.00 horas teve início a Missa Crismal na Igreja Catedral, na qual o senhor Bispo procedeu à Bênção dos Óleos dos Catecúmenos e dos Enfermos, bem como à Consagração do Santo Óleo do Crisma.
Nesta celebração os Presbíteros renovaram as suas Promessas Sacerdotais.
HOMILIA DE D. FERNANDO PAIVA
Caríssimos irmãos em Cristo, neste dia começo por me dirigir de forma especial aos nossos sacerdotes, que hoje irão renovar as suas promessas sacerdotais.
Amados irmãos no sacerdócio, caríssimos presbíteros da nossa Diocese de Beja
Hoje, ao renovardes as promessas sacerdotais diante do vosso Bispo e do povo santo de Deus, o nosso coração volta-se, com reverência e gratidão, para o dom imerecido que recebemos: o dom do sacerdócio.
O sacerdócio é dom. Não é fruto de mérito, nem conquista pessoal, mas dom gratuito, que nos ultrapassa e nos configura, pela força do Espírito Santo, a Cristo Sacerdote. Como nos recorda a Pastores Dabo Vobis no número 15, pelo sacramento da Ordem somos introduzidos num vínculo ontológico específico com Cristo. Cada sacerdote é configurado a Cristo Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja. Esta é a nossa identidade e define-nos não apenas nas ações, mas no ser, no mais profundo do nosso ser.
Bento XVI dizia, em 2009, com sabedoria e clareza: “O que as pessoas buscam no sacerdote é o homem de Deus, junto do qual possam descobrir a Sua Palavra, a Sua Misericórdia e o Pão do Céu […] Deus é a única riqueza que, de modo definitivo, os homens procuram encontrar num sacerdote.” (16/03/2009). Como são atuais estas palavras! Os tempos mudam, os contextos transformam-se, mas o essencial permanece: o povo anseia por Deus, e é a nós que Ele confia essa missão de os conduzir até Ele.
Mas este dom que recebemos, pede-nos uma resposta: a oblação de nós mesmos. Como nos lembra o Directório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros (n°8), somos chamados a aceitar com amor os sofrimentos e os sacrifícios próprios do nosso ministério. A cruz faz parte da missão do pastor, e nela está escondida a fecundidade do nosso serviço, como entrega de nós mesmos, como participação no próprio mistério pascal de Cristo.
O Cardeal Robert Sarah, com grande lucidez, recorda-nos que o padre não é um funcionário do Sagrado, mas alguém cuja vida é profundamente configurada a Cristo Pastor: “Ǫuem recebe esse encargo sabe que doravante, ficará sempre ligado a Cristo e às suas ovelhas. Já não pode ir aonde quer; não é senhor do seu tempo, nem de si próprio. À imagem do próprio Cristo, é dando totalmente a sua vida pelo cuidado com as ovelhas que lhe foram confiadas que o pastor prova que ama o Pai. A vida sacerdotal manifesta e exige, por conseguinte, um grande amor às almas, como resume a célebre fórmula do Cura d’Ars, S. João Maria Vianney: ‘O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus’.”
Estas palavras iluminam a dimensão esponsal do nosso ministério. Como nos ensina a Pastores Dabo Vobis (nº 3), o sacerdote é chamado a amar a Igreja com um amor total, capaz de dar a vida, consagrando-lhe todas as nossas energias… até à doação da própria vida. Não se trata de poesia espiritual: é a nossa vocação concreta. O nosso tempo, os nossos afetos, os nossos projetos: tudo é oferecido em oblação, como expressão desse amor. Somos chamados a amar a Igreja como Cristo a amou. E nesta entrega total, tornamo-nos verdadeiros pastores segundo o Coração de Jesus.
Deixo uma breve palavra acerca do Sagrado Coração de Jesus, ao qual esta catedral está dedicada e à sua devoção muito presente na nossa Diocese, como legado espiritual de D. José do Patrocínio Dias e recentemente iluminada de forma admirável pelo Papa Francisco na sua última Encíclica Dilexit nos.
Esta entrega de que nos fala S. João Paulo II, porém, seria impossível sem a força do Espírito Santo. O mesmo Diretório (nº 11) exorta-nos: “invocar constantemente o Espírito Santo, sem o qual o seu ministério será estéril.” Estas palavras harmonizam-se de uma forma muito especial, com as leituras da Missa Crismal, que nos falam abundante e profundamente do Espírito Santo! O Espírito do Senhor está sobre nós, unge-nos, envia-nos, sustenta-nos. Sem Ele, nada podemos. Com Ele, tudo é fecundo.
O padre é chamado a ser um homem livre e disponível. Só quem vive a liberdade interior está verdadeiramente disponível para servir o Senhor na Sua Igreja. A obediência sacerdotal é a liberdade vivida no amor, no serviço à Igreja, no acolhimento da vontade de Deus que se manifesta nos irmãos e nas necessidades do rebanho. Obediente como Cristo, livre no amor como Ele foi livre na cruz.
Mas, embora configurados a Cristo, conhecemos, e Deus conhece ainda melhor que nós, a nossa própria fragilidade, como escreve São Paulo, “trazemos este tesouro em vasos de barro” (cf. 2Cor 4,7). Somos frágeis, limitados, marcados por imperfeições. Por isso, não podemos caminhar sozinhos. Precisamos de oração, de apoio, de entreajuda, de fraternidade sacerdotal. É urgente cuidar da comunhão entre nós e rezar uns pelos outros.
Também nos confiamos à oração do Povo santo de Deus, e este aspeto está hoje e aqui presente de forma explícita no ritual da renovação das promessas sacerdotais, no qual, daqui a pouco, pedirei ao Povo Santo de Deus a oração pelos sacerdotes.
Também vos convido, exorto a rezar pelas vocações sacerdotais e de consagração, pelo nosso Seminário, para que o Senhor continue a enviar operários para a Sua messe. Saúdo os nossos seminaristas e jovens em discernimento vocacional.
Ainda sobre a missão confiada aos sacerdotes deixo uma luminosa exortação do Papa Francisco acerca da alegria: “A alegria do sacerdote é uma alegria que tem o seu ninho no coração do Senhor. (…) É uma alegria que se renova com a missão, uma alegria que se guarda como unção – íntima, como o óleo precioso que unge em segredo o interior do coração – e que transborda em todo o povo de Deus, por meio do testemunho.”(Papa Francisco, Homilia da Missa Crismal, 17 de abril de 2014)
Caríssimos sacerdotes, “Alegrai-vos sempre no Senhor”, como nos ensina S. Paulo.
Nesta celebração solene da Missa Crismal, a Igreja reúne-se também para abençoar o Óleo dos Catecúmenos e o Óleo dos Enfermos e consagrar o óleo do Santo Crisma. Que importância têm esses óleos na vida da Igreja?
Eles estão profundamente associados aos sacramentos, que são canais da vida divina. Através desses óleos, a graça de Deus toca o corpo e o espírito, unge, fortalece, cura, consagra. No Batismo, no Crisma, na Ordenação, na Unção dos Enfermos, nos ritos da dedicação dos altares – estão presentes os santos óleos, sinal visível de um mistério invisível.
Por isso, a consagração dos santos óleos acontece aqui, na nossa Igreja Catedral, coração litúrgico da Diocese. Aqui, sob a presidência do Bispo, sucessor dos Apóstolos, se manifesta a comunhão eclesial que une todas as paróquias, comunidades, movimentos e ministérios.
É também por isso que os presbíteros aqui presentes se associam à consagração do óleo do Crisma, que é o óleo da plenitude do Espírito.
Estes óleos acompanharão a vida da Igreja ao longo de todo o ano, estarão presentes nas alegrias e nas dores do povo de Deus. Que saibamos reconhecer neles a ternura de Deus que unge, cura e envia,
Caríssimos irmãos em Cristo, agradeço a presença de todos nesta celebração tão significativa. A vossa presença e participação nesta celebração, acompanhando o vosso Bispo ao abençoar e consagrar os santos óleos é um eloquente sinal de comunhão. Lembremo-nos, com gratidão, do dom da vida sacramental da Igreja, da nossa pertença ao Corpo de Cristo, da missão que nos foi confiada. Cada gota destes óleos, está ligada a uma história de salvação, de cura, de vocação, de consagração, que se insere na História de Salvação que Deus faz com o seu Povo.
Que a nossa participação nesta Missa Crismal renove em todos, presbíteros, diáconos, consagrados, leigos, o desejo de viver intensamente o dom recebido, com gratidão, com amor e com ardor missionário.
Que Maria, Mãe da Igreja e dos Sacerdotes e S. José nosso padroeiro, nos acompanhem e inspirem na fidelidade alegre ao dom recebido.
✠ Fernando Paiva Bispo de Beja