NOVOS TEMPOS

Caminho de Santiago: uma fé que move montanhas e atrai multidões

 

Na primeira semana de setembro, tive, uma vez mais, a oportunidade de percorrer os últimos 114 quilómetros do Caminho Francês de Santiago de Compostela. A beleza das paisagens, as subidas, os planaltos e as descidas; o nascer e o pôr-do-sol são únicos… as manhãs de neblina, a chuva ou o calor intenso são sempre uma companhia.

Já percorri algumas dezenas de vezes o Caminho de Santiago e aprendi que não há dois caminhos iguais: nós mudamos de cada vez que o calcorreamos. Há sempre novidades, encontros e reencontros, algo que ainda não tínhamos visto ou notado que agora salta à vista.

O Caminho de Santiago fala por si só, com os seus silêncios, o canto dos pássaros, o barulho dos ramos e copas das árvores, bem como os riachos e rios com as suas águas frescas e cristalinas.

Sempre que percorro as vias jacobeias, recordo os milhões de peregrinos, de santos e pecadores, que há séculos calcam as mesmas pedras e abrem rotas entre as florestas, montes e vales.

Entre os peregrinos existem muitas motivações que os movem, desde a aventura à fé, a fazer quilómetros a pé, a suportar as agruras do clima, o cansaço e as mazelas do corpo. Mas devagar se vai ao longe… o ser humano consegue superar-se a si mesmo.

O Caminho de Santiago retempera a alma, restaura as energias da mente, abre-nos àquilo que é verdadeiramente humano e fundamental: a comunicação com Deus, com o nosso íntimo e com os outros.

Houve momentos em que recordei os tempos bíblicos, do êxodo do Egito e das peregrinações a Jerusalém. Alguns com os seus bordões, outros com os olhos no horizonte, ansiando contemplar a Terra Prometida ou o Templo.

A multiplicidade de povos, línguas e nações, em caminhada e quase todos se saudando com um «Bom Caminho» dá ânimo e força na caminhada.

Como seria belo o nosso mundo se tudo aquilo que se vive no Caminho de Santiago fosse transposto para o dia a dia. O respeito pela Criação e o contacto com a natureza. A valorização da História e do património. A espiritualidade e interioridade que se apreende em cada passo dado. A fé testemunhada pelo apóstolo São Tiago Maior, o primeiro dos Doze que sofreu o martírio, ao visitar o seu túmulo e entrar em comunhão com todos os peregrinos.

A chegada à praça do Obradoiro, diante da Catedral de Santiago de Compostela, é sempre um momento arrepiante. O acolhimento dos peregrinos que já lá estão, os vivas e as salvas de palmas enchem a alma daqueles que chegam ao quilómetro zero. As lágrimas escorrem pela face, lavando a alma.

O Caminho começa sempre quando chegamos a Compostela. Quando partimos para as nossas vidas e as nossas rotinas, levando uma força ancestral, de uma fé que move montanhas e atrai multidões. Preparemo-nos para o próximo Ano Santo Jacobeu em 2027, que contará, também, segundo algumas informações com a visita do Papa Leão XIV.

                                                                  Sérgio Carvalho