53º CONGRESSO EUCARÍSTICO INTERNACIONAL

À volta do tema “Fraternidade para curar o mundo”, inspirado em Mt. 23,8 (Vós sois todos irmãos) fomos participando no programa de cada dia, sempre preenchido com Missa, conferências por especialistas de várias partes do mundo, impressionantes  testemunhos vivenciais e algumas visitas culturais. O Hino do Congresso, quer cantado ao vivo quer ouvido muitas vezes nas colunas de som do vasto Centro de Convenciones Metropolitano de Quito, ia-nos sempre lembrando: “Fraternidade para curar o mundo, isso nos mostras, Senhor, desde a Cruz; Tu nos congregas à volta da tua mesa e nos ensinas a amar o irmão”.

Falou-se do mundo ferido – as feridas sociais e  políticas, destacando  as gravíssimas desigualdades na distribuição da riqueza, a falta de respeito pela casa comum, a situação dos emigrantes, os populismos de esquerda e de direita, o individualismo, a falta de fraternidade e de perdão, etc.,  lembrando que a Eucaristia deve suscitar fraternidade, ver a todos com os olhos de Cristo. O pão partido na Eucaristia é muito mais que um gesto ritual: nós fazemos memória dos gestos de Jesus para depois fazer o que Ele fez. A fé eucarística deve converter-nos em irmãos, para que o mundo creia. A Eucaristia convida-nos a passar da oração à acção, ao compromisso: não se pode viver a Eucaristia e depois actuar contra os Mandamentos. Nesta linha, foi muito significativo o gesto de um dos "voluntários" que nos acompanhou: no último dia, acompanhado da sua família, foi ter connosco ao local de alojamento e, reunido todo o grupo, tirou do bolso uma embalagem com  pequeninos pensos rápidos redondos e colocou um no peito da cada um de nós dizendo: “Lembra-te sempre que, pela Eucaristia, és chamado(a) a curar as feridas dos outros…” Gesto bem criativo! De facto, as feridas  abertas do Ressuscitado são as feridas do amor que curam as feridas do ódio, da inimizade, da violência e da morte que afligem a humanidade, e nós, porque participamos na Eucaristia, prolongamos os gestos de Jesus.

O povo de Quito acolheu-nos muitíssimo bem. Alguns dos 1.500 voluntários acompanharam-nos sempre, ajudando no que precisávamos. Menção especialíssima merece o Pároco e os fiéis de Nª Senhora de Fátima de Andaluzia, uma das paróquias de Quito, onde a delegação portuguesa, presidida pelo Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, celebrou Missa no primeiro e no último dia da nossa estadia no Equador. Que comunidade cristã tão viva! Que gente tão boa, generosa e acolhedora! Ficámos verdadeiramente encantados e comovidos com tantos gestos de simpatia e de amor fraterno ali recebidos.

Ficou também para sempre na nossa memória a linda, fervorosa e imponente Procissão Eucarística que no sábado à tarde, dia 14 de Setembro, no final da Eucaristia celebrada na grande praça  frente à Igreja de S. Francisco, percorreu durante cerca de duas horas as ruas do centro histórico de Quito, terminando na  neogótica Basílica do Voto Nacional, construída há 150 anos para celebrar a consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus. Calcula-se que cerca de 80 mil pessoas participaram nela, caminhando sempre sobre artísticos tapetes de flores, cantando entusiasticamente cânticos eucarísticos tradicionais e rezando com fé!

Antes da celebração de encerramento no dia 15, muitas centenas de pessoas  abeiraram-se do sacramento do perdão dos pecados, e eu próprio colaborei e pude observar a sua alegria.  A soleníssima  Eucaristia final, sob o sol ardente do Equador caindo em vertical nas nossas cabeças, foi ocasião para o Cardeal Baltazar Cardozo, Legado Pontifício para o Congresso, anunciar que a cidade de Sidney, na Austrália, foi a escolhida para acolher o próximo Congresso Eucarístico Internacional, em 2028. Louvado seja Deus por tantas coisas belas vividas nestes dias em Quito, onde fomos convidados a construir o sonho de uma fraternidade curada pelo amor de Cristo!

                                                                                 P. António Cartageno