IGREJA, APROXIMA-TE MAIS DOS JOVENS
É do domínio público que, no dia 6 do corrente, o Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP), da Universidade Católica Portuguesa publicou um estudo denominado “Jovens, Fé e Futuro”. Foram inquiridos 2.480 jovens, entre os 14 e 30 anos. Trata-se de uma amostragem, que cruzada com outros estudos, nos indica a situação dos jovens portugueses relativamente à sua sintonia, neste caso, com a religião católica, os seus valores, preocupações e anseios. Destes quase dois milhares e meio de jovens, 56% afirmam-se religiosos, dos quais 49% dizem-se católicos, mas apenas um terço é praticante.
Ao extrapolarem-se estes números, podemos dizer que a Igreja, em Portugal, tem um enorme desafio pela frente: uma maioria de jovens mantém uma ligação com tudo o que possa dizer respeito ao fenómeno religioso; que uma quase metade desta maioria se identifica com a Igreja católica; mas, dois terços desta parte, não está dentro dela por não concordar “com algumas das normas da prática religiosa”. Talvez os jovens estejam a pedir à Igreja que se foque mais nos princípios da sua fundação e não tanto em normas criadas para responder a problemas de determinadas épocas da história, mas que hoje já não se colocam, ou têm formulações diferentes. Alguns destes jovens também não participam da vida da Igreja por causa de “demasiadas atitudes e comportamentos negativos noutros praticantes”. Pedem-nos a nós, cristãos católicos, maior coerência entre o muito que falamos de valores e do como os aplicamos na vida concreta de cada dia. Porque a fragilidade humana leva-nos, muitas vezes, a não fazer o bem que queremos, mas o mal que não queremos (cfr. Rom 7, 19) e devemos reconhecê-lo com humildade. Os jovens apreciam isso.
Os valores que eles indicaram no estudo como mais relevantes são o amor, o respeito, a honestidade e a liberdade. Os jovens religiosos e os não religiosos diferenciaram-se por dois valores fundamentais. Os primeiros valorizaram o amor e os segundos a liberdade. Neste campo a Igreja tem uma missão a realizar e apressadamente. Falar mais do Deus de Jesus Cristo, que é o Amor em plenitude, rico de ternura e de bondade, e não um Pai castigador, penalista, agente policial. De um Deus que nos criou para a liberdade, arriscou tudo por nós, nos quer livres, capazes de tomar decisões, corresponsáveis com Ele, no cuidado da Criação, na construção de um mundo que se torne “Casa Comum”, na vida de uma Igreja que a todos acolhe, sem qualquer forma de discriminação. Que seja espaço onde os jovens possam “mudar o futuro”, proporcionando, como eles referiram no estudo, possibilidades: de cuidar da sustentabilidade do planeta; de ajudar a resolver os problemas relacionados com a equidade neste mundo tão desigual; de rasgar caminhos construtores de paz; de se envolverem em tudo o que estiver relacionado com mais saúde e educação para todos.
Relativamente à vontade de se empenhar por um futuro melhor, o estudo revela que os jovens procuram ser bons e serem participativos no que diz respeito à cidadania. Por outro lado, aparecem dados algo contraditórios que nos dizem que “os jovens não são muito participativos em termos de ativismo (15%) ou no voluntariado (26%)”. Também aqui a Igreja tem um papel relevante a desempenhar. Os jovens reconhecem que procuram fazer o bem, eles poderiam ser os protagonistas do rejuvenescimento da Pastoral Social.
Para que tudo isto seja possível, a Igreja tem de transformar algumas das suas narrativas; de encontrar novas formas de mobilização e de metodologias; de descobrir e preparar mais lideranças jovens. A Igreja tem de sair à rua e ir aos lugares onde estão os jovens sem preconceitos nem medos.
Eugénio Fonseca