DIA MUNDIAL DOS POBRES - O DEPOIS!
Assinalou-se, no novembro) o 7.º Dia Mundial dos Pobres. É uma iniciativa do Papa Francisco resultante do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Tive a graça de acompanhar as 170 pessoas em situação de pobreza e de exclusão social que responderam ao convite do Papa para se encontrarem com ele, nos dias 12 e 13 de novembro de 2016. Percebeu-se, logo, que esse afetuoso e empático encontro não ficaria sem consequência. De imediato, anunciou que o domingo, anterior ao da celebração de Cristo Rei, seria dedicado aos pobres.
Apesar de ter vindo a ser mais lenta do que a pertinência da causa que moveu Francisco a instituir este Dia, tenho a perceção que já é relevante o número de comunidades cristãs que, no nosso país, vai aderindo, com a realização de atividades que envolvem as pessoas em situação de pobreza, não se limitando a celebrações da eucaristia, para as quais podem até não ser convidados os destinatários da finalidade das mesmas. O Papa escreve, em cada ano, uma Mensagem específica para ser lida, refletida antes do Dia à qual se destina, e mesmo referida nas celebrações desse domingo. Sobretudo, quer que se assumam compromissos que, em cada uma delas, se apontam. Este ano, o grande pedido foi: «Nunca afastes de algum pobre o teu olhar», retirado do Livro de Tobite (4, 7). Francisco, quanto a mim, quis deixar, fundamentalmente, algumas orientações que são muito importantes para o pós-celebração do Dia Mundial dos Pobres. O risco que se corre, é ficar-se, apenas, por falar e, até, estar com os pobres num dia, e tudo não passar daí, sem consequências para uma vida mais justa e motivada a superar as situações de empobrecimento.
Para além da orientação principal que dá título à Mensagem, permitam-me que realce mais algumas que deixo às nossas comunidades cristãs para que possam prosseguir na senda do desígnio do Santo Padre, ao escrevê-la. São as seguintes: i) Receber de Jesus Cristo «o dom e o compromisso de viver a pobreza e servir os pobres» como condição essencial do nosso testemunho; ii) Reconhecer tantas formas existentes ao redor; III) «…ir ao encontro de todo o pobre e de todo o tipo de pobreza, sacudindo de nós mesmos a indiferença e a naturalidade com quem defendemos um bem-estar ilusório.»; IV) «Delegar a outros é fácil; oferecer dinheiro para que os outros pratiquem a caridade é generoso; envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão.»; V) Estar «atentos tanto à necessidade material como à espiritual, ou seja, à promoção integral da pessoa.»; VI) [… não adianta ficar passivamente à espera de receber tudo «do alto». E, quem vive em condição de pobreza, seja também envolvido e apoiado num processo de mudança e responsabilização.]; VII) Defender o acesso ao trabalho como forma de erradicação da pobreza, mas na condição de salários dignos e seguros; VIII) «… interessar-se pelos pobres não se esgota nas esmolas apressadas; pede para restabelecer as justas relações interpessoais que foram afetadas pela pobreza.»; IX) «Que a nossa solicitude pelos pobres seja sempre marcada pelo realismo evangélico. A partilha deve corresponder às necessidades concretas do outro, e não ao meu supérfluo de que me quero libertar.»; X) «Nesta casa que é o mundo, todos têm direito de ser iluminados pela caridade, ninguém pode ser privado dela.».
Francisco não esqueceu a miríade de gente que já se esforça, a título individual ou em comunidade, por praticar a caridade evangélica, pede que se reze por eles e elogia os seus procedimentos ao afirmar: «Damos graças ao Senhor porque há tantos homens e mulheres que vivem a dedicação aos pobres e excluídos e a partilha com eles; pessoas de todas as idades e condições sociais que praticam a hospitalidade e se empenham junto daqueles que se encontram em situações de marginalização e sofrimento. Não são super-homens, mas «vizinhos de casa» que encontramos cada dia e que, no silêncio, se fazem pobres com os pobres.».
Que sejamos capazes de seguir estes exemplos para maior dignificação da vida das pessoas pobres.
Eugénio Fonseca