JORREM A JUSTIÇA E A PAZ

 

Estamos no início do «Tempo ecuménico da Criação». Começou no início deste mês e irá até dia 4 de outubro, festa de S. Francisco de Assis. Este tempo iniciou-se com a celebração do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, assinalado no passado dia 1, para o qual o Papa Francisco escreveu uma Mensagem, na qual refere o tema deste ano que dá título a este texto, e, segundo ele, lhe foi «inspirado pelas palavras do profeta Amós: «Jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca» (5, 24). Nesta sexta-feira, 1° de setembro, com a Festa da Criação iniciamos este tempo ecumênico para rezar e agir pela nossa casa comum

O encargo dado por Deus à criatura humana de crescer, multiplicar-se, encher e dominar a terra (cfr. Gn 1, 28), não foi entendido como uma atitude de confiança em potenciar a inteligência e a liberdade para serem, com o Criador, continuadores da Obra da Criação, tornando-se, assim, cocriadores. Mas, marcado pela sedução do poder (cfr. Gn 3, 1-6) o ser humano confundiu dominar com explorar e usufruir sem limites. As consequências são por demais evidentes, algumas das quais o Papa Francisco menciona nessa magistral Encíclica Laudato Si’ (LS), no capítulo 1.º, das quais realço: Poluição; A terra a tornar-se num depósito de lixo; Mudanças climáticas; Acesso à água como fonte de conflitos; Perda de biodiversidade; Deterioração da qualidade de vida humana e degradação social.

Não é só o futuro que está em perigo. Já vamos sentindo os efeitos destas atitudes predadoras das criaturas humanas, cada uma a seu nível, umas com responsabilidades de uma amplitude tal que, se tivessem a consciência do que é, na verdade, cuidar da casa comum levariam a sério e com responsabilidade universal, as decisões que tomam nas muitas Cimeiras que têm realizado, mas sem sucessos. Por isso, o Papa Francisco tem sido uma voz profética e incessante, conseguindo até, congregar líderes de outras religiões por esta causa.

Da mensagem já referida deixo alguns breves apontamentos, mas com o pedido de que, durante este mês, a leiam na íntegra. Escreveu o Papa: «Ouçamos, pois, o apelo a permanecer ao lado das vítimas da injustiça ambiental e climática, pondo fim a esta guerra insensata contra a criação. Vemos os efeitos desta guerra em muitos rios que estão a secar. «Os desertos exteriores multiplicam-se no mundo, porque os desertos interiores tornaram-se tão amplos»: afirmou certa vez Bento XVI. O consumismo voraz, alimentado por corações egoístas, está a transtornar o ciclo da água do planeta. (…) Apropriam-se da «irmã água» – como lhe chama São Francisco –, transformandoa em «mercadoria sujeita às leis do mercado» (PAPA FRANCISCO, Carta enc. Laudato si', 30). Francisco deixa-nos três apelos, antecedidos destas perguntas «Como podemos contribuir para o rio caudaloso da justiça e da paz neste Tempo da Criação? Que podemos nós, sobretudo como Igrejas cristãs, fazer para sanar a nossa casa comum, para que volte a pulular de vida? Devemos decidir-nos a transformar os nossos corações, os nossos estilos de vida e as políticas públicas que regem a nossa sociedade.» E refere-se aos rios caudalosos, dizendo que «Em primeiro lugar, contribuamos para este rio caudaloso transformando os nossos corações. (…) Em segundo lugar, contribuamos para o fluxo deste rio caudaloso, transformando os nossos estilos de vida. (…) Por fim, para que o rio caudaloso continue a jorrar, devemos transformar as políticas públicas que regem as nossas sociedades e moldam a vida dos jovens de hoje e de amanhã

O Papa Francisco fez saber que, no dia 4 de outubro, publicará uma segunda parte da encíclica LS, onde pretende atualizar as questões relacionadas com a ecologia integral e o cuidado com a criação. Boa notícia. Não deixará, contudo, de reforçar que fez saber na LS ao afirmar que «São necessários os talentos e o envolvimento de todos.» (14)

                                                                  Eugénio Fonseca