JMJ / LISBOA 2023. E AGORA?

O Governo, as autarquias que receberam o encontro, as dioceses, entidades particulares uniram os seus esforços para que toda a logística fosse assegurada e com êxito. O grande encontro aconteceu, com centenas de excelentes eventos. O milhão e meio de jovens participantes não mais irão esquecer a intensidade da vivência destes dias. A figura central, não só porque primeiro peregrino, mas, sobretudo, como o mensageiro do Evangelho, foi o Papa Francisco. Espalhou gestos de ternura; abraçou vulneráveis; encontrou-se com gente ferida na alma; dialogou com representantes de outras religiões; deixou perguntas, orientações e pedidos.

E agora? É, decididamente, “surfarmos na onda” de Francisco. A “onda” que é uma Igreja «acolhedora e sem portas» e «que é mãe: portas abertas para todos, a fim de facilitar o encontro com Deus; e lugar para todos, porque cada um é importante aos olhos do Senhor e de Nossa Senhora». Este grande anseio do Papa deve concretizar-se na criação de espaços de escuta de pessoas atingidas por qualquer tipo de
fragilidades. Afinal, este anseio já era o de Jesus: «Vinde a mim, todos os que e andais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.» (cf. Mt 11,28). Mas não esquecer que “todos” também são os que já estão dentro da Igreja, mas atirados para as suas margens, por razões que não encontram fundamento evangélico. Com efeito, só o Evangelho deveria ser o critério para abrir os braços a todos os que se queiram aproximar da Igreja.

Uma outra “onda” de Francisco é uma atenção constante aos pobres e excluídos. No Centro Social da Serafina apelou para «fazermos juntos o bem, agir no concreto e estar próximo dos mais frágeis.». O “fazer juntos” é uma indicação a que seja em comunidade. Não se pode entender uma paróquia evangelizadora sem a dimensão caritativa organizada. A ação das instituições sociais é necessária, mas é
complementar e não substitutiva do testemunho da comunidade que se reúne para escutar e celebrar a Palavra de Deus.

A JMJ criou energias anímicas e espirituais nos participantes e, quiçá, nos que acompanharam à distância. Os animadores das comunidades cristãs têm, agora, a grande responsabilidade de não deixarem enfraquecer essa força que eles trazem de revitalizar a Igreja e, com ela, ajudar a transformar a sociedade. O envolvimento dos jovens tem de ser empreendedor e não de operários de empreitadas preparadas por outros, em todos os setores pastorais, mas num reclamar por tanto rejuvenescimento como é a intervenção social e caritativa para que as comunidades cristãs se possam «interpelar pela realidade, com as suas pobrezas antigas e novas, e a responder de forma concreta, com criatividade e coragem.».

A JMJ foi um acontecimento inaudito da Igreja em Portugal. O pior que poderia acontecer era ser visto como oportunidade triunfalista e de um poder que se julgava perdido. Pelo contrário, tem de ser considerado uma graça concedida por Deus à Igreja para que tome a iniciativa de dialogar, com humildade e espírito construtivo, com a sociedade, de modo que se abram espaços onde o Reino de Deus se vá instalando. Para isso é fundamental que não só os jovens, mas cada cristão católico, sem medo e com coragem, se torne “surfista do amor”.

 

                                                           Eugénio Fonseca