NOVOS TEMPOS

Gestos de paz e reconciliação
«…Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» (Mateus 16, 18-19)
O Papa Leão XIV, nos últimos dias, tem dado sinais da sua preocupação, própria do múnus petrino, em manter a unidade da Igreja e de todos os batizados, bem como a de promover o diálogo e a reconciliação entre todos os cristãos.
Por um lado, após audiência com o Cardeal Raymond Burke, deu permissão para que no dia 25 de outubro possa ser celebrada, no altar da Cátedra, na basílica de São Pedro, a missa segundo o rito tridentino, durante a tradicional peregrinação Summorum Pontificum, mostrando abertura e mais tolerância para com os grupos de fiéis e institutos religiosos que preservam e celebram a liturgia romana tradicional, segundo os missais e livros anteriores ao Concílio Vaticano II. Este gesto, visa, certamente, apaziguar milhões de católicos que se sentem vinculados a este rito latino.
Outro gesto foi a celebração ecuménica dos mártires do século XXI, na basílica de São Paulo Extra Muros, no dia 14 de setembro. Nesta festa da Exaltação da Santa Cruz, o Papa Leão XIV, juntamente com delegações das Igrejas Ortodoxas, das Antigas Igrejas Orientais e das Comunidades nascidas após a Reforma de 1517, evocou o testemunho (martírio) de católicos romanos, ortodoxos e evangélicos que derramaram o seu sangue testemunhando a sua fé comum em Jesus Cristo, desde o ano 2000.
Na homilia, referiu a «força evangélica da Irmã Dorothy Stang, empenhada na causa dos sem-terra na Amazónia: quando aqueles que se preparavam para matá-la lhe perguntaram se estava armada, ela mostrou-lhes a Bíblia, respondendo: «Esta é a minha única arma». Penso no Padre Ragheed Ganni, sacerdote caldeu de Mossul, no Iraque, que renunciou à luta para testemunhar como se comporta um verdadeiro cristão. Penso no irmão Francis Tofi, anglicano e membro da Melanesian Brotherhood, que deu a vida pela paz nas Ilhas Salomão. Os exemplos seriam muitos, porque, infelizmente, apesar do fim das grandes ditaduras do século XX, ainda hoje não acabou a perseguição aos cristãos; pelo contrário, em algumas partes do mundo, aumentou.»
Ao citar estes mártires, enviou uma mensagem àqueles que promovem a dignidade do ser humano, sem violência, promovendo os direitos humanos à liberdade religiosa, à paz, à democracia, ao direito à habitação e alimentação, independentemente da confissão cristã que professam. O esforço ecuménico para que todos os cristãos voltem a ser uma só Igreja, continua a dar passos em direção à sua concretização.
O Papa Leão XIV, como bom pastor, olha por todo o seu rebanho. Os seus gestos não são conservadores ou progressistas; não são de direita ou de esquerda. São gestos de um pai que quer toda a família reconciliada e sentada à mesma mesa, a partilhar o mesmo pão e a valorizar mais o que os une que aquilo que os separa.
Como é belo ver o espírito das Bem-aventuranças a soprar entre nós. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. (Mt 5, 3-12)
Sérgio Carvalho